O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), começou a negociar com outros partidos uma emenda à Constituição para implantar o sistema parlamentarista de governo no Brasil. Ele espera obter um acordo para colocar a proposta em votação antes de 2017, quando termina seu mandato no comando da Câmara.
Temos que discutir o parlamentarismo no Brasil, e rápido, disse, em entrevista. Ele sugere que o sistema, que daria ao Legislativo papel preponderante na administração do País, reduzindo poderes do presidente da República, comece a funcionar em 2019, com o sucessor da presidenta Dilma Rousseff.
Agora seria um golpe branco, afirmou Cunha. O tema tem ganhado força. Tenho conversado com quase todos os agentes políticos. O deputado acha que a economia brasileira chegará ao fim do ano pior do que está agora, afirmou na entrevista.
O sr. acredita que a presidenta Dilma aguentará os quatro anos?
Eduardo Cunha Apesar de derrotas pontuais, o governo conseguiu passar uma impressão de recuperação da estabilidade com a aprovação do projeto das desonerações. Claro que não é suficiente para reverter nada. O mercado não vê o governo como agente indutor [de mudanças na economia]. Se você falar com nove de dez economistas, estamos muito mais perto do caminho da Grécia do que do caminho da China.
A aprovação do ajuste fiscal e a escolha do vice-presidente Michel Temer para o comando da articulação política não deveriam garantir a estabilidade?
Com uma articulação política debilitada, o governo precisou chamar o Michel para poder andar. Ele entrou e passou um sinal claro de que tinha uma estabilidade política maior e aprovou [o ajuste fiscal]: ele pegou um vaso todo quebrado e conseguiu colocar uma cola que você não vê que estava colado ?pelo menos colou um pouquinho. Se ele ficar vendendo ilusão ou virando garçom para anotar pedido de Congresso e não conseguir resolver nada, acaba se desgastando, e a gente não quer que aconteça. Essa percepção, com a entrada do Michel, parte para essa melhora, mas o governo tem que mostrar suas ações.
Deputados dizem que não votam com o governo porque cargos e emendas não são liberados para partidos aliados.
Estão reclamando porque eles [o governo] continuam com a política de hegemonia, que quer tudo para o PT. Se o PMDB não ocupou o cargo que foi prometido, esse deputado vê que o cargo está ocupado por um petista. O governo prometeu e não cumpriu.
E quem não está cumprindo os compromissos?
Isso eu não vou dizer. Não pode ser o Michel, porque ele não vai aceitar esse papel. Se o Michel tiver que desempenhar o papel de uma pessoa sem palavra, ele vai sair.
Como acha que a economia estará no fim do ano, e como o PMDB deverá reagir?
Eu acho que a economia vai chegar ao fim do ano muito mal, pior do que está hoje. E quando ela chegar pior, a pressão política vai ser maior, e é aí que o governo precisa ter uma base mais sólida.
Se apresentarem um novo pedido de impeachment de Dilma, a Câmara aprova?
Não podemos tratar o impeachment como recurso eleitoral. Avança-se ou não se houver um fato dentro da ótica constitucional.
O TCU (Tribunal de Contas da União) indica que pode reprovar as contas da presidenta.
Se o TCU reprovar as contas do mandato anterior, não quer dizer nada. Se há práticas neste mandato condizentes com improbidade, é outra história. Impeachment é uma coisa grave. O Brasil não é uma republiqueta. A grande evolução que se deve ter é que temos que discutir o parlamentarismo no Brasil, e rápido. Um debate para valer e votar.
Já conversou sobre o assunto?
O tema tem ganhado força. Tenho conversado com quase todos os agentes políticos, PSDB, DEM, PPS, PMDB, PP, PR, com todos os partidos. Com José Serra (PSDB-SP), Aécio Neves (PSDB-MG), Tasso Jereissati (PSDB-CE). Com certeza, vamos tentar votar na minha presidência.
FONTE- http://www.osul.com.br/eduardo-cunha-diz-que-articula-para-aprovar-sistema-parlamentarista/
(Andréia Sadi e Bruno Boghossian/Folhapress)